Parabéns pra você... Cantavam todos.
Nesta data querida. Muitas felicidades. Muitos anos de vida!
- Apague a velinha! Gritou alguém.
A anciã então reuniu forças e com um sopro bem fraquinho apagou as velinhas que representavam cem anos de vida.
- Agora posso morrer. Disse ela olhando os rostos que estavam na sala, todos desconhecidos e continuou:
- Mas penso que ainda tenho que viver para realizar um último sonho.
- Qual é vovó?
- Não posso dizer, senão ele não se realiza.
- O que pode ainda desejar alguém que completou cem anos? Comentou alguém em voz baixa
- Eu nunca tive sonhos, empurro a vida com a barriga, respondeu outra.
- Eu aceitei tudo o que a vida me proporcionou, retorquiu a primeira.
- Eu casei cedo, tive filhos, os formei, não tive tempo para pensar em sonhos, disse uma terceira.
- Para algumas pessoas as coisas dão tão certo! Quando eu era jovem sonhava em me casar, ter dez filhos e fiquei solteira sem filhos.
E a conversa tomou conta do ambiente.
- É, não se pode brigar com a vida. Às vezes esperamos uma coisa e ela nos proporciona outra. Escolhemos um caminho e trilhamos outro. Disse a primeira.
- Mas é preciso direcionar nossos objetivos para alcançarmos as metas almejadas. Respondeu outra
- Não adianta remar contra a maré, brigar contra o destino.
- Que destino? Destino não existe. Disse uma terceira.
A aniversariante que tinha muita experiência de vida toma a palavra:
- Existem certos comprometimentos na vida que não podemos escapar. Uma hora nos deparamos com eles e não adianta fugir. Caminhos nos levam a eles. Se tentamos nos furtar eles irão nos perseguir e se lhe dermos as costas sofreremos conseqüências. Podemos até adoecer mentalmente e fisicamente. Eles vêm como ondas mais fortes, mais fracas, mais um dia podem se tornar um lago de águas paradas. Aí já será tarde. Chamo isto de destino. Algumas pessoas não sentem este chamamento, são inconseqüentes crianças, não se comprometeram com nada. Estão no início. Só pensam em si. Em sua família. Mas um dia também terão que sentar a beira da praia da vida. Agora os sonhos. Somos livres para sonhar. Façam tudo para realizarem seus sonhos possíveis. Só assim serão felizes. Quando tivermos respondido a todos nossos comprometimentos passados um dia também estaremos realizando também os sonhos que são impossíveis hoje.
O silêncio que dominava a sala foi interrompido por alguém que disse:
- Ora, esta velha está gaga!
A anciã ainda com o primeiro prato de bolo na mão sem nada responder olhou para os lados para ver a quem dar o pedaço. Sem família, sem conhecidos, na companhia de voluntários diz:
- Obrigada por terem vindo. Por favor, sirvam-se a vontade.
Depois se senta e serve-se do primeiro pedaço de bolo enfeitado com bastante chantily com um morango bem em cima.
- Ah! Eu adoro morangos.
E esta foi a última frase que a centenária disse naquela noite.
Iride Eid Rossini
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