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24 de out. de 2011

Brasileiros estão mais felizes na terceira idade

"Antes as pessoas se aposentavam da vida e hoje se aposentam somente do trabalho", afirma psicóloga

Paloma Lopes, especial para o iG | 24/10/2011 06:38


Foto: Arquivo pessoal
Dolores, 81, e Jacy, 93, são ativas e vivem mais felizes hoje do que quando eram jovens
Foi-se o tempo em que envelhecer era sinônimo de melancolia e solidão. Quem ainda acredita que a terceira idade está restrita a cadeiras de balanço, agulhas de tricô e partidas de gamão não conhece a vida do idoso contemporâneo. Uma pesquisa divulgada este mês pelo Programa de Novas Dinâmicas do Envelhecimento aponta que os brasileiros estão mais felizes quando chegam na terceira idade. Segundo o estudo, realizado por pesquisadores ingleses entre os anos de 2002 e 2008, a maioria dos idosos brasileiros se considera “satisfeita” ou “muito satisfeita” com suas condições de vida, com o respeito que recebem dos familiares e com o relacionamento mantido com outras pessoas.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dados do Censo Demográfico 2010 apontam que a população idosa no País cresce, enquanto diminui o número de jovens com até 25 anos. E esse crescimento parece mesmo ser uma tendência. Uma pesquisa do Banco Mundial prevê que em 2050 o número de brasileiros com mais de 65 anos deve saltar dos atuais 20 milhões para 65 milhões - ou seja, será três vezes maior. "Hoje estamos envelhecendo cada vez mais e melhor. Isso se deve a diversos fatores, como melhoria da qualidade de vida e avanço da medicina", destaca Rita Khater, professora de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas.
Segundo ela, há alguns anos a representação social do idoso era a do dependente, inválido ou mesmo inútil. "Ainda existe muito preconceito com relação à velhice, mas estamos evoluindo. Isso porque o crescimento da população idosa é significativo e, naturalmente, a sociedade vai sendo obrigada a se transformar para quebrar esses paradigmas", afirma a professora.
Existir x produzir
A psicóloga Isabella Quadros, mestranda em Gerontologia Social pela PUC-SP, explica que a visão negativa do idoso está intimamente ligada ao capitalismo. "Em uma sociedade cujo modelo econômico gira em torno do capital, o seu significado está atrelado ao que você produz. Quando você se aposenta, teoricamente deixa de produzir e, consequentemente, perde sua função no mundo. Por isso durante tanto tempo a aposentadoria foi encarada como uma espécie de sentença de morte", diz.
Isabella ressalta, no entanto, que com o aumento da expectativa de vida, as pessoas passaram a se deparar com um futuro pós-aposentadoria de 20 ou 30 anos. "Isso é uma grande novidade: a pirâmide se inverteu. Se antes o número de jovens era superior ao de idosos, hoje temos um crescimento muito maior de pessoas na terceira idade", observa. De acordo com a professora Rita Khater, antes as pessoas se aposentavam da vida e hoje se aposentam somente do trabalho.
É por isso que grande parte dos idosos, quando se aposenta, parte para a realização de projetos de vida. Viagens, cursos e a prática de esportes são apenas alguns exemplos de atividades comumente escolhidas pelos mais velhos. "Quando se sentem livres das obrigações formais, as pessoas tendem a olhar mais para si mesmas e a fazer o que realmente querem. Muitos idosos vivenciam a aposentadoria como um renascimento; uma possibilidade de ter novas experiências e realizar antigos sonhos", diz Maria Cristina Dal Rio, professora do curso de Aperfeiçoamento em Gerontologia do Instituto Sedes Sapientiae.

É o caso de Jacy de Arruda Faccioni, de 93 anos, que desde menina sonhava em ser professora. "Vim de um regime bastante rígido e acabei me diplomando em contabilidade porque minha mãe não queria que eu fosse professora. Mas não desisti do meu sonho, e com 66 anos fui fazer Magistério", conta ela, que participa de diversas atividades para idosos oferecidas pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) de Campinas, no interior de São Paulo.
A simpática senhorinha canta, dança, atua, escreve poemas, não abre mão de uma boa taça de vinho tinto e diz que jamais sai de casa sem maquiagem. "Sou muito vaidosa e independente. Faço minhas atividades no Sesc semanalmente. Frequento bailes da terceira idade, vou ao shopping com minhas amigas, lavo minha própria roupa. Sempre fui independente e sempre quero ser. Claro que a idade traz algumas limitações, mas sou da seguinte teoria: tudo na vida tem solução", ensina Jacy. O segredo para uma velhice feliz? "Não guardar mágoas e ressentimentos. Isso judia muito do coração". E completa: "Ainda hoje a vida me encanta, me fascina."
Uma vida ativa também está associada ao bem-estar dos idosos. Professor de Educação Física e formado em Gerontologia, Benedito Saga trabalha com grupos da terceira idade há pelo menos 25 anos e enxerga uma evolução significativa na vida dos idosos. “Na década de 70 existia muita dificuldade em trazer os idosos para integrar grupos de atividades culturais e físicas. Eles tinham vergonha até de mostrar as pernas usando bermuda. O avanço veio na década de 80, quando a preocupação com a saúde e o bem-estar foi ampliada no Brasil”, diz. O professor observa que as atividades em grupo são essenciais para que os idosos se sintam mais felizes e ativos.

"Rainha da Terceira Idade"
Com os cabelos claros, bem cortados, unhas feitas, brincos de pedras e batom, Dolores Fernandes anda sempre impecável. Faz atividade física diariamente, canta em um coral, viaja bastante e já está de malas prontas para realizar o seu sonho: conhecer a Itália. Lola, como prefere ser chamada pelas amigas, há um mês resolveu fazer algo inédito em sua vida: morar sozinha. Essa história parece comum, comparada facilmente a de centenas de mulheres no Brasil. A diferença, neste caso, é que Lola vive bem e mais feliz do que nunca aos 81 anos de idade.

O segredo de tanta vitalidade, felicidade e da aparência jovem, segundo Lola, é interagir, praticar atividade física, viajar e, principalmente, ter amigos. “Trabalhei a vida toda. Fui comerciante. Quando era jovem eu tinha muitas preocupações, como bancar o ensino dos meus filhos, por exemplo. Hoje o tempo que eu tenho é meu", explica.

A história dela é semelhante a de Maria Augusta Assis. Cantora por natureza e hoje aos 74 anos, a aposentada mora sozinha e, de tão animada, ganhou o título de "Rainha da Terceira Idade". “Adoro meus amigos e sempre que posso estou com eles. Sou tão ativa que não consigo ficar quieta", conta. Nem a eventual falta de sono à noite a perturba. "Tenho um aparelho de videoke em casa e sempre que tenho insônia, começo a cantar. É um ótimo remédio", ensina.

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4 de out. de 2011

Cresce o contágio da aids entre jovens gays e idosos

Homens deixam camisinha de lado e crescem nas estatísticas do HIV

Fernanda Aranda, iG São Paulo | 03/10/2011 11:11
Cresce o contágio da aids entre jovens gays e idosos
Homens deixam camisinha de lado e crescem nas estatísticas do HIV


Foto: Getty Images
Jovens homossexuais e cinquentões heteros estão mais visíveis nas estatísticas da aids. Encontros são marcados em casas noturnas e bailes da terceira idade
Na sala escura da boate gay e nos encontros marcados após o baile da terceira idade, os homens brasileiros de todas as idades e orientações sexuais têm deixado a camisinha de lado e, por isso, crescido nas estatísticas da aids.
O novo boletim do Ministério da Saúde, que mapeia os casos de contaminação pelo vírus HIV, revela a vulnerabilidade generalizada, impulsionada pelo uso de drogas – seja o ecstasy ou o Viagra.
A proporção de registros entre homossexuais de 13 a 24 anos bateu recorde. Este grupo, em 2010, somou 35,1% do total de infecções masculinas na faixa etária, a maior taxa desde o início da epidemia, em 1980. Simultaneamente, entre os mais maduros, os heterossexuais são maioria dos infectados e acima dos 30 anos representam 43%.
“Não há orientação sexual de risco e sim comportamento perigoso para a aids, muito influenciado pelo abuso de álcool. E os homens, de forma geral, têm negligenciado bastante o preservativo. É um panorama alarmante”, afirma um dos principais infectologistas do País, Artur Timerman, que atua nas redes públicas e privadas de saúde. No último ano, entre seus pacientes, há um casal de 14 e 15 anos, ambos soropositivos e uma senhora de 82 que adquiriu o vírus do marido, de 78 anos.

Evolução de casos em homossexuais em homens entre 13 e 24 anos

Grupo etário está mais negligente com a camisinha. Dados em porcentagem:
Ministério da Saúde
Indiferenças
No início do mês, J.F, 31 anos, morreu e o atestado de óbito teve origem na infecção do vírus HIV, descoberta tarde demais para que os coquetéis de remédios fizessem efeitos e revertessem o quadro.
Homossexual - assumido para os amigos e escondido da família - ele sempre teve medo de fazer o teste para confirmar se as transas desprotegidas tinham mesmo resultado na infecção. Emagreceu, mas só quando as diarreias ficaram constantes procurou o médico.
Jovem bem sucedido na profissão de comunicação, solteiro, nunca foi promíscuo, mas também nunca exigiu proteção em suas relações sexuais eventuais, acertadas em maioria nos encontros no centro paulistano - uma das regiões com alta concentração de casas noturnas para o público gay.

Em uma destas boates, inclusive, que conta com o chamado “dark room” (sala escura em que tudo pode acontecer mas onde só entra quem quer) a falta de temor com as doenças sexualmente transmissíveis (DST) fica exposta no chão. “Eles (a casa) até distribuem camisinha para quem vai entrar. Mas os preservativos ficam fechados e lacrados, jogados no fim da noitada e recolhidos pelo pessoal da faxina”, conta um dos frequentadores.
A indiferença com a possibilidade de contrair aids ou qualquer outra DST também marca os encontros dos “cinquentões” heterossexuais. “Minha geração não aprendeu a usar camisinha. Eu, até descobrir ser soropositivo, nunca tinha usado uma vez sequer e tinha uma média de 18 parceiras por ano”, conta S.C., 59 anos, que trabalha com comércio exterior, mora na zona oeste paulistana e é um autodefinido “apaixonado pelas mulheres”.
Agora, ele não só aprendeu a usar medicamentos para a disfunção erétil, como após a ereção garantida, cobri-la com preservativo. “Podia ter aprendido antes. Mas tenho amigos que mesmo acompanhando de perto o meu caso continuam deixando a camisinha como um enfeite na carteira.”

Evolução de casos em heterossexuais em todas as idades

Homens que fazem sexo com mulheres ganham espaço nas estatísticas. Números em porcentagem:
Ministério da Saúde
Pré ou pós 80’s
Os maiores de 50 e os menores de 30 fazem parte de gerações que ou eram pequenos demais para lembrar os tempos mais árduos da aids ou já estavam maduros o suficiente para sentirem os impactos diretos que a epidemia provocou nos filhos dos anos 70.
Mas nesta primeira década dos anos 2000, os mais velhos e os mais novos foram colocados no alvo do HIV e, ao mesmo tempo, convivem com a falsa ideia de que para “tratar a doença só é preciso tomar um remedinho”, afirma o infectologista Jean Gorinchteyn do Instituto Emílio Ribas, uma das referências nacionais do tratamento da aids.
“O preservativo continua encarado como uma necessidade só para evitar gravidez, portanto desnecessário para quem tem relações homossexuais ou está fora da faixa da fertilidade”, completa Gorinchteyn, que coordena um ambulatório só para soropositivos maiores de 50 anos, onde 60% são homens e oito em cada dez casados com mulheres.
“Um erro perigoso, porque nem tratar a aids é fácil e nem a camisinha tinha de ser vista só como um método contraceptivo. Aids não tem cura, tem tratamento complicado e pode matar”, alerta o médico. No País, são 27,3 mortes diárias por aids.
Medo de falhar
O desdém com a camisinha também tem como combustível o medo de falhar. A falta de jeito e de hábito em colocar o preservativo podem atingir em cheio a potência. “Ninguém quer ter fama de broxa”, contou um jovem de 27 anos, consumidor de drogas e que marca “rapidinhas” sexuais pelo celular.

Mesma aflição foi relatada por um recém-viúvo, de 75 anos, que não tinha relações com penetração plena há 8 anos com a esposa e se viu no papel de adolescente quando uma mulher 20 anos mais jovem, conhecida no bailão do clube, deu a entender que gostaria - e aceitaria - ir para cama com ele.
Este temor tenta ser curado com remédios em prol da potência (para disfunção erétil) ou que prometem ampliar a sensibilidade (entorpecentes sintéticos), influenciando ainda mais no comportamento de risco. O resultado é a ampliação do desuso da camisinha. No Brasil, seis em cada dez homens admitem não utilizar a proteção em todas as relações sexuais, conforme contabilizou o Ministério da Saúde.
Embriagado
Entre os desprotegidos, estão os que sabem ser portadores do vírus HIV e ainda assim mantêm relações sexuais sem camisinha. “Eu contei a uma amiga que tinha o vírus e ela bateu o pé para a gente não transar de preservativo, porque era melhor”, conta S.C.
Sobre os “kamikazes” sexuais, o professor de clínica médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Paulo Olzon – e médico especializado em aids – diz que este comportamento revela falta de ética e preocupação com o outro, duas posturas típicas do novo tempo. “Precisamos rever como tratar estes casos. São como pessoas embriagadas, que pegam o automóvel e dirigem a 300 km por hora. Será mesmo que elas não sabem que vão fazer vítimas”, deixa Olson a pergunta no ar.

Leia as histórias:


Foto: Amana Salles/Fotoarena
Estrangeiros deixam países de origem para tratar aids no Brasil. Na foto, Maurício que morava no Japão
http://saude.ig.com.br/minhasaude/aids-esta-na-boate-gay-e-nos-bailes-da-terceira-idade/n1597243382637.html